Mirante do Pasmado

O Cristo contempla todos os dias..

Nasci em Botafogo e só há duas semanas descobri que meu bairro é muito mais bonito do que eu imaginava. No dia-a-dia corrido, passo por prédios de concreto esquisitos, buracos, uma muvuca de gente e carros. Mas, de cima, tudo é bem diferente. Durante o mês de Março, o jornal O Globo, em parceria com o Rio Sul e outras marcas famosas, tiveram a linda ideia de fazerem eventos aos sábados de domingos lá. Eles ainda resolveram o problema do transporte! Subir aquela ladeira arredondada é bem perigoso a pé e, quem não tem carro, fica com preguiça. Mas, em Março, uma van que saia e voltava para o Rio Sul levava quem quisesse ir, de graça, para lá.

Tudo bem, a pipoca custava R$ 5 e uma tapioca R$ 16. Mas, sentar em uma das esteiras e olhar a Praia de Botafogo se misturando à Urca é de graça e vale muito a pena (como encontrar um pote de ouro ou um pote de Nutella). As fotos podem ter a presença do Cristo Redentor, o verde da natureza bruta ou até o clube Botafogo. É só escolher entre tantos ângulos e compartilhar a beleza. No fim das contas, contemplar o meu bairro por algumas horas me fez acreditar que Botafogo é muito mais bonito do que suas ruas mostram ser. Tipo Monet mesmo. De longe, um espetáculo, mas, de perto, nem tanto.

Onde: Rua General Severiano, em Botafogo, na subida.

O que levar: óculos escuros, se tiver sol, um lanchinho e uma toalha ou canga, já que a melhor parte é ficar sentada admirando a paisagem.

Preço: De graça!

Quando ir: De manhã com sol! Mas, ver o pôr do sol deve ser lindo, porém, perigoso retornar pelo caminho de noite.

Vibe: Piquenique com os amigos, apaixonar-se e diversão em família.

Botafogo by night (foto: Tatiana Borges)
Curtindo um solzinho no Mirante com a Carol!
Botafogo!
Dá para ver até o delicioso pão de açúcar!

Pôr do sol no Arpoador

É lindo, simples e de graça. O pôr do sol no Arpoador é aquele momento que você entende claramente porque o Rio de Janeiro é conhecido como a “Cidade Maravilhosa”. Em poucos minutos de caminhada da estação General Osório até a pedra imponente no começo da praia de Ipanema, já dá para ver várias pessoas sentadas esperando o espetáculo da natureza. Naqueles dias azuis intenso de sol, dá para refletir como somos abençoados por poder presenciar aquele dia. Mas, em dias nublados, as nuvens escuras realçam as sombras do mar e dos morros. Enfim, sempre dá para ter a certeza da beleza natural do Rio. Tem gente de todos os estilos, de chinelo, biquíni, com bicicleta, cachorro, bermuda, camisa e até terno e gravata. Sim! Já vi um cara com um tablet ligado curtindo uma música no fone, de terno e gravata arrumadinhos, sorrindo feliz da vida. E para encerrar, quando o sol realmente tiver ido embora, dá para ouvir aplausos. É uma forma dos cariocas expressarem o agradecimento para a natureza…

Onde: Posto 7 – Ipanema.

O que levar: óculos escuros e uma toalha ou canga, caso não queira sentar diretamente na pedra.

Preço: De graça!

Quando ir: No fim do dia, sem chuva. Nos fins de semana e feriados a pedra costuma ficar bem mais cheia!

Vibe: renovação e inspiração!

Pôr do sol no Arpoador
Pôr do sol no Arpoador

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O Rio de Janeiro é seu, Obama!

É domingo, um sol lindo lá fora e decido dar um passeio. Que tal ir no Cristo Redentor ou passear pela praia de copacabana? Pois é, você, carioca, não pode hoje! O metrô só funciona até a estação Glória, várias ruas estão fechadas. Só Obama tem o direito de ir e vir na cidade maravilhosa. Com todo o apoio (e muita bajulação) do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes (puxar o saco do presidente americano é quase uma obrigação moral), o presidente dos Estados Unidos tem o direito de fazer o que quiser, só escolher, que ninguém vai incomodar. A cidade é sua! Seja mais do que bem-vindo!

Mas e se a Dilma decidisse ir passear em Nova York? O Obama iria pedir para fecharem a quinta avenida e as lojas mais importantes só para nossa presidente? Pois é, acho que o Brasil ainda não é tão importante assim para o mundo, mas os Estados Unidos… Obama pediu para conhecer o Rio de Janeiro, fez questão de ir no Cristo Redentor. Acho que o passeio é mais turístico do que político, mas para disfarçar marcou um discurso com menos de meia hora para artistas e celebridades assistirem.  Isso não poderia ter sido feito em Brasília? Enfim, só quero ver se um dia vão dificultar o ir e vir de várias pessoas  só para eu poder passar…

Campanha do dia: Obama, gosto de você, mas se você prega tanto a igualdade e liberdade, podia ter pedido menos regalias né?! E por favor, não vista aquela camisa que você ganhou do Flamengo…não vai ficar legal, tenha certeza disso!

Dilma diz: "Seja bem-vindo, Obama. Brasília e Rio de Janeiro são todos seus, fique à vontade."

Foto: Gustavo Miranda

Acelera Aê!

Se você quer chegar bem rápido em algum lugar na cidade, esqueça o metrô ou o carro. A melhor opção são os ônibus, especialmente o da linha 410. Mas, se seu objetivo é chegar com tranquilidade ou segurança, então esqueça. Volte para as opções iniciais. A delicadeza e gentileza dos motoristas também impressiona. Para que esperar você passar pela roleta? Acelera e só para (bem bruscamente) quando é necessário (nesse caso, só se a pessoa fizer um sinal brusco e exagerado no ponto de ônibus ou anunciarem a parada em alto e bom som).

Outro dia, um senhor entrou no 410. Acho que não estava acostumado com o ritmo que até combina com uma trilha sonora de axé.  Depois de algumas voltinhas no estilo vândalos do trânsito, o senhor não aguentou, se levantou e foi falar com o gentil motorista.

Senhor: Dá para você dirigir mais devagar? Você está correndo. É um absurdo!

Motorista: Eu não estou dirigindo rápido. O carro tem limite de velocidade. Você que desça do ônibus.

Daí para frente a discussão apelou para os clássicos palavrões.  Se você pensa que o motorista resolveu ir mais devagar, saiba que ele nem parou o ônibus para conversar com o tal senhor, continuou acelerando e xingando ao mesmo tempo. Fico só imaginando o tal limite de velocidade préestabelecido…

Campanha do dia: Pela paz e sossego na sua viagem de ônibus, NÃO pegue o 410!

Acho que o 410 passou por aí...

Farofa carioca

Mais um dia de sol ilumina o verão carioca. O melhor programa de domingo só poderia ser a praia. Mas é quando muita gente se junta para se divertir que alguns saem na desvantagem e você passa a entender o outro significado da palavra FAROFA.  No leme, por exemplo, a receita inclui areia, bolas de futebol, cerveja, biscoito e outras surpresas encontradas na água do mar.

A areia é misturada principalmente por crianças. A preferência é pelo uso da técnica de guerra, onde bolas de areia são jogadas em outras pessoas.  Uma menina de 10 anos que desgutava uma esfirra sentiu bem o tempero, já que uma das crianças acertou em cheio o lanchinho no meio de uma das guerras e nem pensou em pedir desculpas. Saiu jogando mais areia ainda pelos ares.

As bolas de futebol são os favoritos dos esportistas jovens.  Zac Efron latino resolveu bater a sua bolinha (aliás, bem murcha) com um outro amigo bronzeado e achou que tinha privilégios.  Por isso, escolheu ficar pertinho do mar. Quem pegava um sol por ali, levou bolada, areia, além de precisar desviar o caminho para chegar até a água.

Quanto maior o calor, mais ingredientes a farofa carioca ganha. Praia no Rio de Janeiro é isso aí, muita gente reunida e aquela farofa. Siceramente, prefiro só minha água de coco gelada.

Campanha do dia:  Na praia, fique no seu quadrado.  Nem todo mundo gosta tanto assim de areia no corpo.

típica farofa na praia do leme, de longe..
típica farofa na praia do leme, de longe..

Vou de táxi

Estava atrasada para a comemoração do meu aniversário.  Já era noite, quando eu, minha irmã e uma amiga decidimos então pegar um táxi. Parecia a decisão mais correta. A distância era pequena, iriamos dividir a “passagem” por três e chegaríamos no local mais rápido do que de ônibus.  Logo na porta do prédio, uma senhora e vizinha no auge dos 70 anos saia de um táxi. Não pensamos duas vezes, vamos entrar nesse mesmo, até porque é de cooperativa.  Mas isso não é garantia contra gafes. Algumas cortadas ali e outras aqui, finalmente chegamos onde queriamos. O taxista espertinho avisa o total da corrida, um valor quebrado. Entregamos uma nota de R$ 20 e o espertinho comenta: “Eu não tenho troco, aquela senhora foi a primeira passageira do dia”. Engraçado que já passava das 20h e não tinhamos nota menor ou algum lugar ali por perto para trocar o dinheiro. Tudo bem, a diferença era pequena e deixamos passar. Mas já é mais do que costume os taxistas aproximarem os valores finais das corridas, claro, sempre para mais.

Alguns nem justificam mais. O táxi deu R$ 8,30.  O passsageiro paga R$ 10,00 e espera os R$ 1,70, mas recebe apenas uma única  moeda de um real. Se é para aproximar, então que tal devolver dois reais? Podia descontar aquele sinal vermelho que fechou justamente pelo deslocamente em uma velocidade bem abaixo do limite. Um dos colegas da classe, em outra corrida, até denunciou o barraco de um outro taxista justamente porque a menina do banco de trás reclamou que faltavam 30 centavos no troco. O “simpático” resolveu gritar com ela no meio da rua, como se a menina estivesse errada por querer de volta míseros 30 centavos.  Troco é troco e com 30 centavos dá para pagar 3 balinhas. Logo, dependendo do caso, o moço da bala merece muito mais o dinheiro do que o taxista grosso, que de centavo em centavo enche o papo.

Campanha do dia: Táxi já é mais caro do que ônibus, então cada centavo deve ser cobrado.

Show dos vizinhos

A festa começa e você está mais do que intimado a participar.  Não é um convite. No caso, apenas as músicas e barulhos são compartilhados. Se estiver com sede ou fome, aproveite e assalte a sua geladeira. É assim o show dos vizinhos. Sem hora para começar ou terminar, mas a sua participação é certa.

No apartamento 402, a festa é praticamente diária. Às vezes, começa de tarde, nos fins de semana pode até acontecer pela manhã. A música, com certeza, não é a que escolhi para ouvir, mas já que a rua inteira escuta o som do vizinho (sim, não é exagero), quem tem que ajustar o gosto musical sou eu. Até pensei em emprestar alguns CDs ou sugerir algo para o repertório, mas embora eu participe da festa, não tenho tanta intimidade assim com o alvoroçado vizinho.  Nem pretendo ter. Até já vi atores globais frequentarem o local e curtir bastante o som. Mas só vi e ouvi. Embora gostaria mesmo era de ouvir e ver os meus programas favoritos na TV. Quem sabe quando o vizinho estiver viajando…

Campanha do dia: Escute sua música, mas não precisa colocar tão alta assim para o prédio inteiro ouvir. Gosto musical não se discute, mas, às vezes, pode ser um perigo compartilhar.

Feliz Ano Novo!

Na hora da virada vale tudo para atrair energias positivas. Tem gente que aposta na roupa nova, nas cores com supostos significados implícitos e até simpatias. Mas parece que para fazer o ano bombar, não bastam os fogos de copacabana, tem que ter aquele caseiro básico para explodir no meio da rua.  O tiroteio começa de manhã. Como alguém ousa dormir no dia 31 de dezembro? Antes da contagem regressiva, durante e depois. Alguns até querem competir com os de copacabana e saem disparando na direção dos fogos oficiais da noite.

Mesmo proibido, os fogos caseiros continuam bombando por aí.  Pelo menos você descobre logo quem são os chatos que vão incomodar por aí no próximo ano. Feliz 2011!

Campanha do dia: Deixe os fogos caseiros mofando nas lojas.

Fogos de verdade são bem mais bonitos!
Fogos de verdade são bem mais bonitos!

 

 

Assassinos do português

Português é uma língua complicada.  Muitas regras, sons diferentes e até várias palavras para um mesmo significado. É normal escorregar de vez em quando. Deve ser por isso que tem gente que parece ter desistido de vez de aprender ou, num protesto pessoal, decidiu assassinar diarimente nossa querida língua.  Até entendo algumas pessoas não saberem usar termos como rubicundo,  admoesta, loquaz ou tergiversar*, mas tudo tem um limite. Para compreender a questão, vou contar a história do senhor Z . Ele é um senhor,  com seus 50 anos, possui ensino superior completo em administração e trabalha em uma grande empresa nacional. Comunicativo, gosta de conversar e possui muitos colegas e amigos. Porém, adora tropeçar (gravemente) no português. Lembra daquela regra básica que você aprendeu (ou deveria ter aprendido) ainda no colégio “mim não conjuga verbo”? Ele não gosta e não quer saber de usar. Coloca o mim em tudo.  É um festival de “para mim comprar”, “para mim fazer”, “para mim ver” que machuca o ouvido alheio. Outro problema pessoal ele tem com o plural. Se o mundo é um só, para que inventaram o plural? Então três laranjas viram “três laranja”, vários dias, na verdade são “vários dia” e seus amigos  são conhecidos como “meus amigo”. Neste caso, não tem desculpa. É gafe e muita vontade de assassinar o português. Na televisão, nos jornais, nos livros e, principalmente, no círculo social (bastante volumoso e utilizado) do comunicativo senhor Z a língua é respeitada. Ou seja, ele sabe as regras. Ele ouve os termos corretos. Mas, mesmo assim, prefere ignorá-los. Não adianta tentar corrigir, mas torcemos para que amigos e familiares continuem insistindo. Sabe como é: agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Campanha do dia: Respeite a nossa língua e não machuque o ouvido de quem fala português corretamente. Afinal, no Brasil se fala português e brasileiro deveria ser fluente naturalmente.


*Tradução: rubicundo = avermelhado,  admoesta = perdão, loquaz = falador e tergiversar = desculpar-se